domingo, 15 de maio de 2011

A metáfora do saquinho de supermercado

Faz muitos anos que venho percebendo que os chamados plásticos biodegradáveis não entregam o que vendem.

Há mais de uma década eu assinava uma revista cientifica que vinha embalada com o tal plástico. Ele foi imediatamente para a composteira, o melhor lugar do mundo para biodegradação, com água, microorganismos e nutrientes à vontade. Seis meses depois me cansei. Tirei, lavei (estava intacto, como novo !) e o mandei para reciclagem.

Quando os supermercados começaram com o saquinho oxibiodegradável, de novo peguei uma amostra, escrevi a data e coloquei na composteira. Tudo igual.

Agora fui mais longe, minha esposa grávida tirou uma foto com o saquinho e nosso filho fará o mesmo, ano após ano. Este menino vai concluir o curso superior e o saquinho oxibiodegradável estará igual.

Pois eis que nesta semana foi publicado um artigo cientifico por gente que entende muito mais de química do que eu, confirmando esta minha visão pessoal. O artigo Polietileno degradável, fantasia ou realidade, de Roy et al saiu na Environmental Science & Technology de abril de 2011.

Na verdade tudo que estes saquinhos fazem é que eles se despedaçam na presença de calor, luz e oxigênio, mas em níveis muito superiores aos normais. Ainda pior, o interior de lixões/aterros sanitários tem os três fatores muito baixos. De qualquer jeito, você preferiria limpar um terreno baldio com 10 saquinhos ou 1000 pedacinhos ?

A única função do saquinho oxibiodegradável é aplacar a consciência daqueles que não conseguem organizar-se para usar uma sacola de compras igual a da vovó ir à feira, que resolve não só a poluição, mas também o problema de carregar várias sacolinhas que machucam a mão e complicam a vida.

Em entrevista recente, James Lovelock disse que preocupar-se com saquinhos é como preocupar-se em arrumar as cadeiras do Titanic enquanto ele afunda. Ele está certo que o saquinho é uma parte pequena do gasto de combustíveis fósseis, (de fato importa muito mais como você vai às compras do que como as carrega) mas está errado na escolha da metáfora. O saquinho está mais para a orquestra do Titanic, que continuou tocando enquanto o barco afundava. Concretamente não fez diferença, mas ajudou melhorando o espírito geral.

Estranho muito Lovelock criticar a luta contra os saquinhos, porque ele mesmo criou uma importante metáfora ambiental Gaia, que mesmo não fazendo sentido algum, fez muita gente pensar e agir melhor.

As pessoas começam preferindo o saquinho oxibiodegradável, passam para a sacola de compras, daí vão às compras de bicicleta, para terminar se perguntando se precisam mesmo ir às compras.

 

4 comentários:

  1. Vc conhece o autor Mike Berners Lee? Ele escreveu um livro com titulo How Bad Are Bananas. Ele fala exatamente o que vc escreveu. Se nao conhece, mas le em ingles, vou mandar copia do livro para vc.
    Shirley

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  2. Já ouvi falar, mas ainda não li. Se nao for uma copia pirata, adoraria ler sim.

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  3. Tenho muitos conhecidos que estao sempre indo ao Brasil. Vou mandar por um deles. Preciso saber qual cidade vc vive para saber por quem mandar.

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  4. Oi Shirley, muito obrigado, pensei que voce falava de uma cópia eletrônica. Por favor mande para o endereço de contato na editora planta. Não quero colocar meu endereço doméstico aqui na página. O livro de que voce fala parece ser uma versão pessoal do The world according to Pimm, que traduzi para o Portugues. Este está disponível em inglês no site do autor Stuart Pimm

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