sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

No colo da mãe natureza


A coluna desta semana estava pronta até ouvir Rita Lee cantar Mamãe Natureza no rádio. Se você é muito novo para conhecer ou muito velho para lembrar, veja lá.
Fiquei lembrando do tempo em que estava começando sem saber se ia conseguir ganhar algum dinheiro ou se ia só cantar no chuveiro e pensei nas levas de ex vestibulandos por estas semanas começando agora nas carreiras ligadas à natureza, como biologia, geografia e engenharia ambiental e também das outras que acabaram se ligando à natureza como agronomia, engenharia florestal, arquitetura e tantas outras.
Vi grandes mudanças nos últimos 25 anos.
Falando sobre o refrão da música, ganhava-se bem mais que algum dinheiro nos primeiros projetos de restauração e relatórios de impacto ambiental. Como não havia parâmetro de pagamento, recebíamos pela tabela de engenheiros civis. Talvez hoje com a área mais estabelecida até circule mais dinheiro, mas individualmente somos pior remunerados. Por outro lado, hoje é possível começar cedo, fazendo estágios já nos primeiros anos de faculdade, como sempre aconteceu nas outras áreas.
No começo dos anos 90 não havia nem um conteúdo estabelecido para disciplina de Preservação de Recursos Naturais. Tive que criar para meus alunos uma disciplina que eu mesmo não tive quando era estudante.
Ao contrário, hoje já temos alguns alunos interessados em trabalhar com ambiente por ser uma área promi$$ora. Nada contra, ao contrário. Quanto mais gente pudermos atrair, melhores cérebros poderemos selecionar. E por falar em seleção, muita gente tem sido mesmo expelida do mercado, indo cantar no chuveiro.
Ainda que as universidades (não todas!) cumpram o importantíssimo serviço de disseminar conhecimento, a demanda de profissionais é muito menor que a oferta. Como o mercado sabe que está em posição “compradora”, acaba podendo exigir línguas, experiência e pós graduação.
O resultado é que o mercado de trabalho em ambiente virou uma briga de cachorro grande. Se você está entrando para conseguir um “empreguinho” bem remunerado, esqueça de sentar no colo da mãe natureza. Haverá alguém com mais disposição para trabalhar e estudar por longas horas para aproveitar este colinho.
Não adianta a gente chorar, a mamãe não dá sobremesa.
Ao menos, esta grande dispersão de conhecimento ambiental criado pelas levas de universitários irá trazer mais atenção para as questões que nos afligem, como a recente coalisão entre grandes ONGS e empresas do setor alimentício que iríamos contar hoje, mas que ficou para a semana que vem.

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