terça-feira, 4 de setembro de 2012

Condicionados para o frio



As pessoas lidam com más notícias de modos curiosos. Antigamente se matava o mensageiro, hoje alguns destroem o telefone. É o que os psicólogos chamam de etapa de negação. Os negacionistas das alterações climáticas estão ainda lutando para aceitar o fato que o clima está mudando, e com ele nosso modo de vida.
Uma estirpe particular de negacionistas deseja recriar só para si um clima mais frio usando ar condicionado, como se a energia para seu funcionamento viesse de algum outro planeta.
O mundo está esquentando e enriquecendo e infelizmente usando ar condicionado cada vez mais. Nosso grande irmão do Norte, (de quem copiamos o hábito insalubre de confundir habitação com geladeira), consome mais energia com ar condicionado doque toda a África, e não é para menos; eles usam a temperatura realmente baixa e as casas, geralmente de madeira, oferecem pouco isolamento para o calor externo. Tudo fica pior com os recordes de temperatura alta que vêm se sucedendo.
As paredes horríveis com ar condicionado em Mumbai ou China não mostram uma realidade pior do que a bela casinha no subúrbio norte americano, mas que é termicamente equivalente a uma geladeira escancarada. A única diferença é que os Estados Unidos vêm gastando um absurdo de energia com ar condicionado há décadas, enquanto a Ásia entrou neste jogo antes de ontem.
Faz séculos que conhecemos alternativas para melhorar o clima de nossas construções. Comecei a criar minha fama de maluco com os construtores de minha casa quando passei dias e dias girando uma maquete ainda no terreno vazio. Uma mudança de míseros 5 graus na orientação da casa fez com que o sol passe exatamente por cima, deixando-a fresca no verão. Com o sol entrando pela face norte no inverno, ela dispensa aquecimento. Foi difícil convencer o construtor que eu não queria um split, e que também não queria deixar a instalação pronta para um. Todas as casas agora tem...
Ainda pior que o gasto de energia presente é que o uso continuado de ar condicionado causa dependência futura. Depois de um tempo, já não estamos mais confortáveis com 25 graus, e também nos acostumamos a usar mais roupa que o necessário. Por que não o modo de vestir australiano, que considera o respeitável short na altura dos joelhos uma vestimenta socialmente aceitável ?
Ao invés de tentar negar o óbvio, use uma roupa mais leve e ajude a esfriar não só o planeta como também a própria cabeça.

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