segunda-feira, 3 de junho de 2013

Clima Conservador

É compreensível que empresas petrolíferas gastem fortunas em campanhas de desinformação sobre as alterações climáticas. Pode não ser lá muito humano colocar investimentos em combustíveis fósseis acima de bilhões de vidas humanas, mas ao menos é fácil compreender sua motivação.
No entanto, tenho dificuldade para entender o que pretendem algumas revistas e jornais que parecem desinformar de propósito, repetidamente.
Há duas semanas, a Veja deu duas folhas para a grande novidade que o aquecimento global não existe porque a temperatura de dez anos atrás foi igual a de hoje, como se um sistema complexo como o planeta tivesse a obrigação de aquecer-se por igual. Pegue o aumento de temperatura maciço e indiscutível desde a revolução industrial e você encontrará não um, mas vários períodos em que a temperatura foi igual a algum momento no passado. Umas semanas antes o Daily Mail publicou o mesmo gráfico, que a Veja cortou e colou sem ao menos citar a fonte. Na última semana eles voltaram à carga dizendo que vincular o recente tornado de Oklahoma com aquecimento global é um desrespeito às famílias das vítimas.
Ao contrário, as vítimas e suas famílias tem o direito de saber se o mal que sofreram seria evitável. Canhestramente dizer que a região sempre foi acossada por tornados é muito raso. Quase todos problemas ambientais de hoje eram naturais no passado, mas em menor intensidade. Erosão, extinção de espécies, queimadas, eutrofização de águas. Não inventamos nada disto, só aprimoramos.
A realidade da literatura sobre aquecimento global e eventos extremos é ainda dúbia no que diz respeito a tornados. O aquecimento pode não ter efeito sobre efeito sobre eles, como também pode, ao contrário das secas e furacões para os quais a conexão é mais clara.
Atrás disto está a simples vontade de vender. O público que ainda se informa através de um único veiculo, e em papel, é cada vez mais conservador. Esta desinformação é a miçanga e o espelho dadas aos índios em troca do ouro de sua atenção.

E cada segundo que gastamos provando que existe, é um a menos para decidir como vamos nos adaptar às mudanças em curso.

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