sexta-feira, 5 de julho de 2013

Manolito está vivo

Mafalda é um personagem de quadrinhos que fez muito sucesso a partir do Clarín, nas décadas de 1960 e 70, talvez porque combinava humor, cinismo e esperança de um jeito que desarmava até as almas mais arredias. No time de personagens que gravitava ao redor da Mafalda, tinha o Manolito, umfilho de comerciantes que enxergava o mundo a partir de relações de compra e venda. Seus descendentes atuais são aqueles que não querem aprender, mas “agregar valor”.
O sucesso destes personagens está em que sendo irreais, estão em todos lugares. Nesta quarta-feira, Flavio Rocha, presidente de uma grande cadeia de lojas, publicou na Folha de São Paulo sua visão de como as recentes manifestações foram criadas a partir de um processo educativo de consumidores, que de reclamar quando a geladeira nova quebra, passaram a exigir melhores serviços públicos.
Não posso falar por eles, mas por mim, digo que não sou consumidor, porque consumir não é a coisa mais importante que faço. Assim como todos precisamos consumir, também assoamos o nariz e defecamos, mas isto não autoriza a ninguém chamar-me de “assoador de nariz”.
Consumir é gastar, queimar, esgotar. Evito todos diligentemente. Prefiro restaurar (eis aí minha porção Manolito, divulgando o Ecologia da Restauração, à venda nas melhores casas do ramo...), e também inventar, criar, conceber e aprimorar.
Felizmente há Mafaldas também no mundo para lembrar que podemos fazer mais do que trocar nossas vidas por dinheiro, e dinheiro por bugigangas que rapidamente viram lixo e causam morte de variadas formas.
A Mafalda de nossos dias se chama Anne Leonard e tem uma platéia um tanto maior que nossa histórica e pequena heroína familiar. Em seu vídeo “história das coisas” na tradução do original do inglês, ela conta como é possível que algumas coisas custem tão barato e o que existe de exploração de seres humanos desde a produção até a disposição final destes materiais.
Cidadão não é consumidor, e o consumo não é a “porta de entrada da cidadania”. Ao contrário, o consumo é a porta de entrada de um neo-escravagismo, talvez ainda pior que o primeiro, por aprisionar corações e mentes.

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