Foi um feito da engenharia.
Decolar um foguete tão rápido que passou pela Lua em poucas horas,
e seguiu na mesma velocidade por nove anos até chegar em Plutão, de onde
começou a mandar as fotos nesta semana.
Eu entendo a alegria dos engenheiros
quando a coisa toda dá certo. Em meu laboratório, comemoramos coisa muito
menor, como medir temperaturas a 100
m de distância. Essas coisas tem
infinitos modos de dar errado, mas só um de dar certo. Quando funciona a
gente se sente espertíssimo, mas qual mesmo a importância?
Suponhamos o cenário fantástico
que as tais montanhas de gelo no pólo contém formas de vida espetaculares. E
daí? Daí daqui a mil anos ainda iriam falar sobre como isto completou a
revolução de Copérnico (a Terra não é o centro do universo) e de Darwin (o
homem é somente mais um animal), com a idéia que a vida também não é
exclusividade da Terra, mas repito, qual a importância disto?
Nesta semana tive o privilégio de
tomar um trem lotado às margens do Pinheiros em São Paulo. As fotos de
Plutão mudam a vida daquelas pessoas exatamente em quê? Agora não andam mais de
trem?
Há algumas semanas fiz aqui umas
contas mostrando que boa parte da agricultura brasileira
poderia manter-se só com o Nitrogênio em nossa urina. Tive um enxurrada de
respostas dizendo que seria muito complicado, talvez ainda mais que mandar uma
câmera fotográfica com um transmissor para Plutão.
Mas uma outra notícia, também
desta semana, mostra como uma ONG no Haiti já vendeu 300.000l de composto de
fezes e bagaço de cana. Eles têm um
pequeno subsídio para coletar as fezes em baldes fechados e levar para dois
locais onde a compostagem é processada.
Pouca gente quer se envolver com
transporte de cocô quando há alternativas como fotografar Plutão, mas para o
bilhão de pessoas sem acesso a sanitários aqui mesmo na Terra, estes
dois caminhos são mais que alternativas profissionais; um deles muda a vida das
pessoas enquanto o outro é mero circo.
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