Há filmes aos quais retornamos sempre. Lá pelos anos 80 assisti
Coração Satânico de Alan Parker. Prenhe de idéias, o filme mostra também como o
caminho para o inferno é feito de pequenas concessões.
Nesta semana tive o lisonjeiro prazer de ser convidado para
carregar a Tocha Olímpica. O trabalho de mais de uma década ajudando escolas a
compostar seu lixo orgânico foi reconhecido pela Prefeitura, e este gesto tem grande
significado, já que gestões anteriores restringiram o trabalho por miopia
política.
No entanto, recusei o convite para não fazer uma concessão.
Já faz alguns meses que uma grande marca vendedora de água
com açúcar, gás carbônico e ácido fosfórico vem se posicionando ao lado das Olimpíadas,
que assim deixa de ser algo em favor da saúde e de transcender limites humanos,
para ser vitrine de um produto prejudicial à saúde. Ao carregar esta tocha, eu
estaria na verdade anunciando refrigerante.
Há alguns anos, uma grande empresa produtora de tabaco quis também
fazer uma matéria em sua revista, e também recusei. Há um limite para a
importância da visibilidade para as ações ambientais, assim como para como
estas ações geram recursos financeiros.
Há o caso de uma área no Texas onde a ONG Nature Conservancy
fez um longo trabalho para evitar a extinção da Galinha-das-Pradarias-de-Atwater,
ameaçada pela perfuração de poços em sua única área de ocorrência. Após muito trabalho,
conseguiram que a área afinal fosse doada a eles. Eis que a ONG está agora ela
mesma produzindo petróleo na área, e a tal galinha está agora ainda mais
próxima da extinção.
O dinheiro produzido está sendo bem usado em outros locais? É
provável, mas o dano de uma concessão destas é certamente muitas vezes maior.
Outro recado do mesmo filme é a atenção com a arrogância,
este problema de saúde ocupacional de professores. Portanto, faço esta recusa
sem criticar a Prefeitura ou nenhum participante das Olimpíadas, já que eu
mesmo carrego um grande fardo de concessões, como andar de carro, viajar de avião
e tantas outras que não parece haver meio de livrar-me.
Nenhum comentário:
Postar um comentário