Na tarde da última sexta-feira tive a grata e inesperada oportunidade de falar para uma classe de doutorandos de três universidades portuguesas após o fim de um congresso na terrinha.
Depois de umas horas de conversa sobre como diferentes países gastam energia e os resultados que obtém com isso, o anfitrião (Prof Filipe Santos) nos lembrou que o Brasil é um país atípico em sua contribuição de carbono que vêm muito mais do desmatamento que da queima de combustíveis fósseis.
Achei que a proporção brasileira de emissão de carbono seria um bom tema para uma coluna, quando descobri que não há um gráfico assim na internet.
Passei a manhã quebrando minha cabeça para você não quebrar a sua. Vamos aos valores;
De acordo com o CDIAC, emitimos 0,35 Pg (1 Pg é 1015g ou 1 bilhão de toneladas) de gás carbônico por ano.
Destes, 0,2 Pg vêm do desmatamento, de acordo com um citadíssimo artigo de 2000 na Revista Nature. Ontem, por coincidência, O IBGE divulgou o levantamento do rebanho brasileiro. Temos 205 milhões de cabeças (portanto, este país conta com mais cabeças bovinas que humanas). Cada boi emite em média 50 kg de metano/ano, resultando 0,02 Pg de metano, que por causar 25 vezes mais efeito estufa que o gás carbônico, equivalem a 0,25 Pg deste gás. O setor energético, de acordo com o Ministério das Minas e Energia, emite 23% do carbono do país, portanto 0,08 Pg. Se você está acompanhando a contabilidade, já percebeu que a soma das partes é 150% do todo. Desencontros deste tipo são comuns quando tomamos dados de origens tão diversas, mas o recado geral já foi dado pelo meu colega lisboeta; o desmatamento da Amazônia é nosso grande emissor de carbono (assim como o metano dos bovinos).
E há outro recado importante. Nosso consumo total de petróleo está na casa dos 100 milhões de toneladas (dados da BP), o que implica em uma emissão total de milésimos da emissão da Amazônia ou do metano bovino. Conclusão; Em relação a emissões de carbono, você pode andar de carro desde que não consuma madeira amazônica ou coma carne bovina.
É preciso tomar cuidado com a estatística, que assim como o biquíni, é importante pelo que mostra mas fundamental pelo que esconde. Uma estatística como “eficiência energética” (ton de carbono/dólar de PIB) mostra que alguns países conseguem produzir mais riqueza por carbono, mas esconde que o fazem porque historicamente emitiram muito mais construindo seu parque tecnológico em uma época de emissões ilimitadas.
É como disse no Congresso o ministro da Energia de São Tome e Príncipe. É bom que a NASA não descubra um novo planeta para explorarmos, porque a África seria de novo a última a chegar lá...
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