quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Certeza Pluvial

É preciso uma articulação nacional para resolver a problemática da chuva.
Você concorda ?
Mais que discordar, abomino frases que complicam a coisa para encobrir nossa incapacidade de resolver algo simples.
A “problemática da chuva” se resume em uma questão básica, que já expliquei em classes desde o ensino fundamental até a pós-graduação. Não é honesto usar uma expressão como “problemática da chuva” para referir-se ao solo ensopado perder sua agregação.
É igualmente certo saber que choverá no ano que vem, e que algumas centenas de pessoas morrerão por causa disto. Em um levantamento feito pelo Jornal “Gazeta do Povo” em 2010, 180 pessoas haviam morrido em 12 estados. Compilei valores para outros anos que somam 760 mortes.


É típico do subdesenvolvido encarar a própria realidade como acaso. Como não chove por dez dias seguidos nos filmes de Hollywood, ou nos seriados norte americanos, acreditamos, em algum canto de nossas mentes, que a chuva seja uma eventualidade.
A eventualidade é imprevisível, como ser atropelado dentro de um restaurante. Ninguém se prepara para uma coisa destas. As chuvas anuais são uma certeza como a neve de algodão em nossas árvores de natal e por isso suas mortes são culpa dos homens, não um desígnio de deus. Se você respeita seu deus, não irá orar para a gravidade puxar para cima, para os cães miarem ou para não chover.
O horror anual das mortes pela chuva ano não mobiliza as pessoas porque os tomadores de decisão o consideram um problema dos outros, assim como a AIDS e a educação pública. Tomadores de decisão não moram em zonas de risco.
As soluções são simples. O Governo Paulista está relocando centenas de famílias que habitam os bairros-cota na Via Anchieta. As poucas reclamações que apareceram são em função de detalhes como atraso das mudanças e demora na demolição das casas, e feitas por pessoas ligadas à oposição. A metodologia proposta não tem mágica. Um órgão técnico mapeou as áreas de risco. A secretaria de habitação incluiu as famílias em seus programas. A secretaria do ambiente está plantando de volta a floresta.
Nestas chuvas, dezenas de famílias já estão em moradias seguras, na baixada santista ou em São Paulo.
Mas esta afinal não foi uma articulação de três secretarias ? De novo, me parece um nome pomposo demais para três orgãos da mesma gestão puxarem para o mesmo lado.
Iniciativas como esta podem ser mais freqüentes, se por exemplo, os parlamentares gastarem menos dinheiro em festas (verdadeiras ou só para alimentar o caixa-dois), ou se o executivo perceber que seus eleitores realmente não querem mais ver as mesmas notícias janeiro após janeiro.
Não é necessária uma articulação nacional para resolver a problemática da chuva. Basta fazer o básico e preocupar-se menos com a barriga do jogador de futebol.

2 comentários:

  1. Por que o brasileiro urbano merece um tratamento distinto do tratamento que recebe o brasileiro rural?

    A relocação das centenas de famílias que habitam bairros-cota na Vila Anchieta não significou a assunção do custo de recuperação da ocupação desordenada pelo Estado?

    Por que isso é lícito e moral para a ocupação desordenada na urbe e não é no campo?

    Por que razão a ocupação desordenada no campo, muitas vezes estimulada, outras vezes até mesmo exigida pelo gorverno, tem que ser corrigida com ônus privado, como exige o Código Florestal?

    É como se o pessoal dos bairros-cota da Vila Anchieta tivesse que comprar outros terrenos alhures, construir novas casas, demolir as suas e recuperar a encosta, tudo isso com recursos próprios e desenvolvendo a própria tecnologia de recuperação. Isso seria moral?

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  2. Oi Ciro;

    Eu o tenho em alta conta, por isso estranho que voce use um sofisma tão rasteiro.
    Voce já viu alguma foto do bairro cota ? É definitivamente correto o morador do bairro cota tenha um tratamento diferente do proprietário de terras, mesmo o pequeno. Há muito mais diferenças entre eles, do que um ser rural e o outro urbano (mais ou menos...). A principal é que eles trabalham um mês inteiro para ganhar o equivalente a 1/5 de ha plantado com soja.

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