domingo, 21 de agosto de 2011

Esgotos de lá e de cá

Sempre resisto aos convites de comparar outros países com o Brasil porque eles têm outras histórias, outros lugares e outras pessoas e sempre acabamos concluindo serem tão diferentes que são mesmo incomparáveis.
Porém, nesta semana não resisti ao apelo quase que místico da matéria de Bruma Komarchesqui no Jornal de Londrina e a de Jim Dwyer no New York Times, ambas no mesmo 22/7 falando sobre os rios de suas cidades.
Em Londrina, um estudo de dois anos de duração, realizado em 35 pontos determinou que a qualidade da água em 17% deles era boa, sendo o resto de pouco a muito poluída.
Em Nova York a notícia era que uma bomba da estação de tratamento de esgoto pegou fogo obrigando o lançamento sem tratamento nos rios da cidade.
No caso norte americano foram colocados avisos sobre o comprometimento da balneabilidade. No caso brasileiro a suposta falta de balneabilidade é motivo para não fazer o tratamento terciário, que permitiria a própria balneabilidade. Eu explico. Há uma lei exigindo o tratamento terciário somente quando se usa a água para nadar. Estaria a lei e a Sanepar então sugerindo que para conseguirmos tratar nosso esgoto precisaríamos começar a nadar nos rios poluídos ?
Antes de cairmos no cliché que somos pobres tupiniquins incomparáveis com os ricos norte americanos, é bom lembrar que a rede de Londrina foi construída neste século, quando já se conhecia os problemas de unir águas pluviais e servidas na mesma tubulação (a estação de tratamento não dá conta do volume quando chove). O sistema de esgoto de Nova York tem mais de duzentos anos.
Neste fim de ano durante uma chuva em São Paulo vi um chafariz de água da chuva mistura com esgoto jorrando a dois metros de altura em uma boca de lobo. A pressão da água era tanta que jorrava pelas frestas da tampa de ferro. Não há estação de esgoto que consiga lidar com isto.
Assim como Londrina, Nova York também tem o seu “João das Águas”, nosso ongueiro com independência para falar o que deve ser falado. Lá ele se chama John Lipscomb e é responsável pelas amostras de água de um grupo chamado Riverkeeper, o acquametrópole de lá. No entanto, as semelhanças param por aí, porque Mr Lipscomb tem motivos para otimismo. Ele diz que a catástrofe novaiorquina servirá para mostrar como era a situação há quatro décadas, antes da construção da estação de tratamento que permitiu que os novaiorquinos usem suas águas
Já a situação de Londrina não muda há décadas. O IAP diz que a Sanepar não trata o esgoto e a Sanepar diz que o IAP não fiscaliza o lançamento de esgoto. Dizia um velho amigo velho que quando duas pessoas brigam, é comum estarem ambas corretas.

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