Beleza é fundamental, ainda preciso repetir para ver se vou
aprendendo. Fui criado nas ciências, que sempre preferem conteúdos e essências a
aparências, mas as ciências conhecem pouco do coração humano.
Foi nos anos 80 que vi Koyaanisqatsi, um filme que consegue
“falar” sobre todos problemas ambientais sem dizer uma palavra. Para um filme
tão pouco convencional, ele até que fez um bom sucesso, conseguiu estar em muitas
salas e possivelmente mobilizou muito mais que uma década de raciocínios
lógicos nesta coluna.
A ética e a estética da natureza tomaram tal tamanho que já
existe até festival de cinema ambiental, que terminou ontem no Rio. Longe do
tom professoral e calculado de, por exemplo, Verdade Inconveniente, de Al Gore
(que recomendo sem restrições), as sinopses dos filmes parecem conseguir
escapar da pegada apolíptica, que afasta muita gente.
Já nos anos 90, me lembro de Ilha das Flores, que conseguiu
ser bem humorado descrevendo a miséria humana dos que vivem no lixão de Porto
Alegre. Parece que com tantos prêmios que este filme ganhou, nos livramos
daquela coisa tristonha, em tonalidade menor, como “Panorama Ecológico", do
Erasmo ou “Planeta Água” de Guilherme Arantes.
Poderia, por exemplo, gastar todo espaço desta coluna
falando sobre os prejuízos ambientais da criação animal. Poluição orgânica,
substâncias aplicadas nos animais que terminam em cursos dágua, etc. Mishka
Henner, ao contrário, fez fotos dos estábulos e de corpos dágua próximos. Cores e contrastes podem falar mais que química,
podem talvez até despertar o interesse de conhecer a coisa mais a fundo.
Mais recentemente, artistas da altura de Sebastião Salgado começaram
a tratar do tema ambiental, o que mudou as regras do jogo. Quando a melhor arte
passa a tratar do tema, ela atrai um público muito maior, e sem ele continuaríamos
onde estivemos até hoje; com meia dúzia de sábios falando para outro tanto de
alunos bocejantes.
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