sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Terra de ninguém

Na semana passada mostrei como convenções internacionais como a COP10 não gerarão resultados concretos enquanto não existir um governo mundial. Se você não seguir a lei, a policia pega voce. Você seguiria a lei se a polícia precisasse convencer todos seus vizinhos da sua transgressão ?

A globalização avançou muito na comunicação e transportes, menos na segurança e ainda menos na segurança ambiental. Em tese, para vender produtos para um país deve-se seguir sua legislação ambiental, mas quem vigia isto ? E mesmo vigiando, que medidas caberão se por exemplo o arroz exportado não seguiu os preceitos exigidos pelo comprador ? Valerá a lei do país onde é produzido ou a do comprador ? Ou isto tudo é muito confuso e vale o bang-bang do mercado mesmo ?

Em março de 2009 o Financial Times noticiou o primeiro carregamento de arroz produzido nas terras da Arábia Saudita na Etiópia. Repito, não é um grande empresário árabe produzindo arroz na Etiópia. O proprietário e produtor é o país Arábia Saudita.

Longe de um caso isolado, China, Coréia do Sul, Kuwait, Qatar e vários outros estão também comprando terras. Produzir comida exige maquinário cada vez mais caro, o que aos poucos vai expulsando os menores do jogo e formando gigantescas unidades de produção agrícola. O problema social é gritante pela redução de empregos e da posse dos meios de produção e do ponto de vista ambiental um país faminto da África tem poucas condições de cercear um gigante que aporta em seu território com caminhões, máquinas, aviões e agrônomos.

Muita terra tem sido vendida para estrangeiros também no Brasil. De acordo com o Ministério da Agricultura, 16 usinas da Região de Ribeirão Preto são propriedade de grupos estrangeiros e em cinco anos, 40% da produção brasileira de etanol estará nas mãos deles (Agência Estado, 4/11/10). Em todo país, foram adquiridos 515,1 mil ha entre 2007 e 2009 (Folha de São Paulo, 02/11/10).

As conseqüências ambientais da tomada das terras brasileiras por estrangeiros é uma pergunta aberta. Da mesma forma que grandes grupos costumam ser exploradores ambientais mais ávidos, também são mais suscetíveis à opinião pública. A BP, por exemplo está entre os grupos estrangeiros comprando usinas no Brasil e eles andam meio feios na foto. O problema da opinião pública é que ela é mais sujeita ao marketing que aos fatos. Cristo e Giordano Bruno que o digam. Soltos para se relacionar diretamente com a opinião pública, não é difícil para grandes empresas venderem suas versões dos fatos.

Abra a página da BP para ver que maravilha está o Golfo e o bem que eles fizeram para os pescadores da região.

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