quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A última do Português

 

Esta coluna está a ser escrita em Portugal. Estou aqui para abrir o Evento Sustentar sobre energias renováveis. Minha palestra foi sobre aquelas idéias da semana passada.

O evento está a ocorrer na pequena cidade Alentejana de Moura que conta com 9.000 habitantes. É uma região difícil, com severas dificuldades hídricas, solos pouco férteis, temperaturas de 50 graus no verão e uns 5 que deve estar fazendo no inverno que cá está.

Se você está imaginando um fim de mundo no qual todos moradores são protagonistas de piadas de português, está a precisar rever seus conceitos.

O sol é a grande mercadoria desta região e há milênios ele é coletado na forma de produção agrícola. Nós até comemos esta energia aí no Brasil. Muitos dos azeites no mercado brasileiro vêm daqui. Mas há alguns anos eles passaram a coletar energia solar de outras maneiras também.

A prefeitura desta pequena cidade apostou todas suas fichas na energia solar. Construiu uma fábrica de células solares e instalou o maior parque solar do mundo, com 240 hectares de painéis em Amareleja que vão virando ao longo do dia como um gigantesco girassol.

O garçom do hotel me contou como ele paga 8 “cêntimos” por kW pela energia solar e pode vendê-los para o sistema por dez vezes com um painel no telhado de casa. O grande problema da energia elétrica é que não pode ser estocada como a água das usinas hidrelétricas ou a gasolina. Ou a energia elétrica é usada na hora ou é jogada fora, como fazemos no Brasil o dia todo para que no começo da noite Itaipu e suas irmãs dêem conta do recado quando a nação liga seus chuveiros de 15 reais.

Já havia lido isto no livro, Plano, Quente e Lotado de Thomas Friedman, mas ouvi-lo em viva voz de uma pessoa simples é mais importante pois mostra um componente importante do sucesso português: educação.

A grande sacada Portuguesa foi estabelecer um mercado previsível de preços. Desde Amareleja até o produtor doméstico, todos sabem quanto ganharão. E com o passar do tempo o governo vai pagar menos e menos pela energia, mas até lá eles esperam ter criado uma demanda tão grande que estimule a produção em escala e barateamento dos painéis.

Em Lisboa há as conhecidas roupas secando nas janelas dos apartamentos. Secadoras são raras por aqui. Em todas “cafetarias” de rua o “sumo” de laranja é feito na hora e servido em copo de vidro.

O moral da história é simples. Este país consegue ter uma expectativa de vida igual à americana com 1/6 do gasto de energia. Eles conseguem pensar em si próprios e nos “miúdos” das próximas gerações ao mesmo tempo.

Você acerta sobre os portugueses se pensar mais em Dom João VI e menos no Seu Manuel da padaria.

 

 

 

 

Um comentário:

  1. Oi Efraim

    Estive mês passado em Leiria, participando do III Encontro Internacional de Observadores de Aves, e também me impressionei com a quantidade de hélices para capturar energia eólica na região. Além da limpeza das ruas e simpatia da população, também não vi copos plásticos e raramente encontrei sacolinhas que não fossem de pano ou plástico resistente.

    Se pensar bem, a piada somos nós...

    Abraços,

    Tietta Pivatto

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