sábado, 18 de dezembro de 2010

Conservação Inevitável

Acabo de ler Dom Pedro II, de José Murilo de Carvalho. A História Brasileira me interessa por que de tanto repetir-se, é sempre atual.
A abolição da escravatura esteve constantemente em pauta a partir do meio do século 19, mas os donos de terras conseguiram evitá-la por diversos meios.
- Sem escravos não existe agricultura no Brasil !
- O imperador quer a abolição só para mostrar-se na Europa !
- Quem vai ressarcir os proprietários de escravos ?
Alguns anos depois percebemos que mais que impedir um direito humano (como se fosse pouco) a escravatura era um empecilho para a construção de um país de fato. Os donos de terras até gostavam de dispor de mão de obra muito barata, mas isto ia contra o verdadeiro progresso do país.
Faz 20 anos que ouço o lobby ruralista dizendo
- O Código Florestal vai acabar com a agricultura do país !
- Isto é pressão de ONGs estrangeiras !
- Quem vai nos ressarcir pela área perdida ??
Melhorar nosso ambiente é tarefa para todos e todos têm dado sua contribuição. A indústria sofre pesada regulação ambiental tanto do governo como de seus consumidores. Cidadãos têm sua carga de impostos aumentada, em parte para melhorar a conservação. Assim como no caso da escravatura, há proprietários de terras com mais visão que já estão no século 21, mas muitos ainda perdem tempo em Brasília tentando tapar o sol com a peneira.
Talvez conseguirão, considerando sua esperteza de tentar aprovar a urgência da votação da alteração do código florestal enquanto a bancada ambientalista estava em Cancun (não avisei que o encontro era uma fria ???). Um golpe de mestre que quase regrediu o país umas cinco décadas.
O lobby ruralista simplesmente teme o efeito desinfetante da luz do sol que o debate acadêmico e a participação populares vão trazer.
Agora, um dia depois desta coluna ter ido para os jornais, vemos que até nisto eles são muito espertos. De fato, a pressão popular não conseguiria, como de fato conseguiu adiar a votação. Este adiamento é importante para que sejam incorporadas as opiniões públicas, acadêmicas e do Ministério do Meio Ambiente.
Acadêmicos têm trazido idéias interessantes, como a que não falta terras para agricultura e pecuária (já que há muita terra subutilizada). O país gasta muito para manter as universidades públicas. Não seria recomendável ouvir o que seus melhores professores têm a dizer ? Veja três destes em trabalhos em
http://www.fileden.com/files/2008/4/2/1848710//Artigo_Science.pdf
http://www.ekosbrasil.org/media/file/OpCF_gs_010610_v4.pdf
http://www.biotaneotropica.org.br/v10n4/pt/fullpaper?bn00110042010+pt
Até agora, bastou fazer agricultura como mineração; explora e parte para outra. Agora que não temos mais fronteira agrícola, é melhor começar a pensar em uma agricultura mais sustentável, e o Código Florestal contribui para isto.
Prestem atenção, que esta gente lá em Brasília está quase trazendo a escravatura de volta para nosso país.

Um comentário:

  1. Grande
    Efrain
    perfeito o comentário e ficamos de plantão em Brasilia, por conta do que aconteceu enquanto estavamos em Copenhagen e fizemos uma grande resistencia e os ruralistas estão furiosos e perderam o noção da coisa pública e da etica.
    segue parte da noticia do sitio do Greenpeace
    Atraso no campo

    Os problemas do campo não residem na legislação ambiental. Os reais problemas residem na falta de infraestrutura e logística para escoamento da produção; na tecnologia na produção defasada; no pouco crédito e na inexistência de políticas públicas destinadas ao aumento da produtividade; na precariedade da regularização fundiária e na insegurança do produtor, que sofre com oscilações dos preços das commodities nos mercados por conta de especulação.

    Todos esses problemas são transformados pelos ruralistas em um falso debate, de que apenas uma lei – o Código Florestal – atrapalha a todos. O processo torto levou a produtores rurais não cadastraram suas terras nos sistemas estaduais – quando precisam detalhar seus ativos e passivos ambientais – na esperança de se “beneficiarem” com as alterações propostas pelo projeto de lei. Hoje continuam vulneráveis à legislação, por terem apostado no canto da sereia ruralista.

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