De vez em quando gosto de falar sobre minha cidade. Muitos preferem ouvir sobre Nova York ou Madrid, mas em Londrina, assim como na aldeia de Alberto Caeiro, pode se ver "quanto da terra se vê no Universo", basta estar atento.
Voltei para casa depois de uma temporada fora e ela me pareceu mais limpa, não sabia porque. Só fui lembrar da Lei da Cidade Limpa lendo a grita dos comerciantes por causa das tarjas pretas colocadas em anúncios irregulares.
Esta lei foi promulgada no meio do ano passado, com direito até a uma coluna comemorativa. Os comerciantes tiveram 180 dias para deixar passar o natal e adequar-se. Ao invés, estão tentando ganhar mais um prazo, aliás da mesma maneira que fazem os proprietários de terras obrigados a observar o código florestal.
Se você tem algum amigo comerciante reclamando "Que mal minha plaquinha faz ao mundo ?", use o Google Street View para ver em seu computador algumas ruas de Nova York, Madrid ou qualquer destas onde gastamos fortunas para conhecer. Você achará a rua limpa. Não será difícil imaginar-se andando por estas ruas pensando no que sua cabeça achar adequado pensar, não no anúncio disto e daquilo e que termina sendo tanto que nem sabemos mais o que é.
A beleza não é relativa nem está nos olhos de quem a vê. Veja a palestra de Denis Dutton no TED e descubra porque preferimos caminhar no Igapó 2 do que na Maringá ou Saul Elkind (não que o palestrante de afetado sotaque britânico tenha conhecido minha aldeia).
Acabar com a poluição visual é muito mais do que embelezar a cidade. O catatonismo visual que vivemos até há pouco afeta a saúde das pessoas. O susto tem importância evolutiva para nós. Se o leão chega, você tem que pular antes mesmo de saber do que se trata. Mas viver em constante susto visual só agrava os outros sustos inevitáveis no trabalho, em casa e no trânsito.
A cidade luminosa também não permite o necessário "abaixar de bola" que devemos fazer ao cair da noite. Dormindo tarde você garante o emprego do seu cardiologista. Imagine então o que a luz artificial faz com a fauna.
Fiz toda esta defesa biológica, histórica e psicológica da Lei da Cidade Limpa para conclamar meus aldeões a evitar os comerciantes invasivos, espaçosos e irregulares que ainda mantém suas placas antigas. Minha aldeia, já não tão pequena assim, oferece alternativas para todo serviço que há no Universo. A saúde de todos depende de boicotarmos os comerciantes que não se adequaram e privilegiarmos os regulares, que aliás são tantos que já mudaram a cara da cidade. Parabéns para eles, boicote aos outros.
Veja aí para onde vai o poema de Alberto Caeiro sobre a aldeia
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
Lei da Aldeia Limpa
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