Faz muitos anos que venho percebendo que os chamados plásticos biodegradáveis não entregam o que vendem.
Há mais de uma década eu assinava uma revista cientifica que vinha embalada com o tal plástico. Ele foi imediatamente para a composteira, o melhor lugar do mundo para biodegradação, com água, microorganismos e nutrientes à vontade. Seis meses depois me cansei. Tirei, lavei (estava intacto, como novo !) e o mandei para reciclagem.
Quando os supermercados começaram com o saquinho oxibiodegradável, de novo peguei uma amostra, escrevi a data e coloquei na composteira. Tudo igual.
Agora fui mais longe, minha esposa grávida tirou uma foto com o saquinho e nosso filho fará o mesmo, ano após ano. Este menino vai concluir o curso superior e o saquinho oxibiodegradável estará igual.
Pois eis que nesta semana foi publicado um artigo cientifico por gente que entende muito mais de química do que eu, confirmando esta minha visão pessoal. O artigo Polietileno degradável, fantasia ou realidade, de Roy et al saiu na Environmental Science & Technology de abril de 2011.
Na verdade tudo que estes saquinhos fazem é que eles se despedaçam na presença de calor, luz e oxigênio, mas em níveis muito superiores aos normais. Ainda pior, o interior de lixões/aterros sanitários tem os três fatores muito baixos. De qualquer jeito, você preferiria limpar um terreno baldio com 10 saquinhos ou 1000 pedacinhos ?
A única função do saquinho oxibiodegradável é aplacar a consciência daqueles que não conseguem organizar-se para usar uma sacola de compras igual a da vovó ir à feira, que resolve não só a poluição, mas também o problema de carregar várias sacolinhas que machucam a mão e complicam a vida.
Em entrevista recente, James Lovelock disse que preocupar-se com saquinhos é como preocupar-se em arrumar as cadeiras do Titanic enquanto ele afunda. Ele está certo que o saquinho é uma parte pequena do gasto de combustíveis fósseis, (de fato importa muito mais como você vai às compras do que como as carrega) mas está errado na escolha da metáfora. O saquinho está mais para a orquestra do Titanic, que continuou tocando enquanto o barco afundava. Concretamente não fez diferença, mas ajudou melhorando o espírito geral.
Estranho muito Lovelock criticar a luta contra os saquinhos, porque ele mesmo criou uma importante metáfora ambiental Gaia, que mesmo não fazendo sentido algum, fez muita gente pensar e agir melhor.
As pessoas começam preferindo o saquinho oxibiodegradável, passam para a sacola de compras, daí vão às compras de bicicleta, para terminar se perguntando se precisam mesmo ir às compras.
Vc conhece o autor Mike Berners Lee? Ele escreveu um livro com titulo How Bad Are Bananas. Ele fala exatamente o que vc escreveu. Se nao conhece, mas le em ingles, vou mandar copia do livro para vc.
ResponderExcluirShirley
Já ouvi falar, mas ainda não li. Se nao for uma copia pirata, adoraria ler sim.
ResponderExcluirTenho muitos conhecidos que estao sempre indo ao Brasil. Vou mandar por um deles. Preciso saber qual cidade vc vive para saber por quem mandar.
ResponderExcluirOi Shirley, muito obrigado, pensei que voce falava de uma cópia eletrônica. Por favor mande para o endereço de contato na editora planta. Não quero colocar meu endereço doméstico aqui na página. O livro de que voce fala parece ser uma versão pessoal do The world according to Pimm, que traduzi para o Portugues. Este está disponível em inglês no site do autor Stuart Pimm
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