sábado, 10 de setembro de 2011

Parte do problema ou da solução ?

Plantas fazem fotossintese e com isso retiram carbono do ar para crescer. Para os desavisados, isto poderia resolver o problema. Uma árvore compensa a queima de centenas de litros de combustível ? Já fizemos esta conta aqui há meses . Trocando em miúdos precisaríamos de vários outros planetas florestados para que a conta fechasse, porque estamos queimando em cem anos um carbono que foi acumulado por centenas de milênios. 

Torramos desvairadamente uma poupança lentamente construída pelos nossos antepassados. Por lidar com plantas, a agricultura é freqüentemente lembrada como solução para o problema (desperdiçamos tempo escolhendo qual a melhor solução, quando na verdade precisamos de todas juntas para talvez resolve-lo). Poucos lembram que infelizmente, hoje em dia gasta-se muito combustível fóssil até para lidar com plantas. 

Aumentamos a eficiência energética da produção de alimentos quando deixamos de ser caçadores coletores. Afinal, deixamos de andar até a planta, para ter um monte delas próximas a nós. Mas desde então só fizemos aumentar o aporte de insumos na agricultura. Água, esterco, revolvimento de solo... Tudo é energia colocada na agricultura para mimar nossas plantas. O problema nem era tão sério em um mundo de 300 milhões de habitantes, mas agora com 7 bilhões e a possibilidade de carrear recursos de todo planeta (e também do passado, como o petróleo e outros recursos minerais), nossa agricultura é hoje muito mais parte do problema que da solução. 

Muitos produtos agrícolas nos dias de hoje consomem até dez vezes mais energia para serem produzidos que seu conteúdo, e isto ainda não é a história toda. Depois de produzido, o alimento é embalado, transportado, refrigerado e desperdiçado, tudo necessário para que possamos comer Camembert de lá ou Shitake de mais além. 

Se colocarmos nossa cabeça para funcionar, ao invés do avião, todas regiões brasileiras têm possibilidade de produzir uma alimentação digna ao longo do ano. Além de reduzir a pegada ecológica da agricultura, isto talvez trouxesse de volta alguma riqueza no contato entre estas culturas. É enfadonho andar milhares de Km para comer exatamente o que comemos em casa.

Como a agricultura tem uma pegada ecológica grande, as soluções ambientais baseadas nela não são de fato soluções. O plástico feito a partir de álcool, por exemplo, precisa de nitrato para adubar a cana, e nitrato demanda o bom e velho petróleo em sua produção, conforme me lembrou o amigo Fabio Yamashita, da UEL. 

Não há jeito de escapar da segunda lei da termodinâmica. Não há como gastar menos gastando mais. Não sairemos desta enquanto não fizermos mais com menos. Nenhuma indústria irá dizer para voce consuma menos, transporte menos, viva mais simples e menor. 

Ao fim e ao cabo, esta é a única solução.

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