quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Monsanto e WWF juntas ?


Desde David Ricardo e do século 18, que percebemos as vantagens da divisão do trabalho. A regra hoje é preocupar-se com uma partezinha bem pequena da realidade e delegar o resto, muitas vezes delargar.
Fazemos isto com quase tudo em nossa vida, até mesmo nosso lado altruísta é terceirizado. De acordo com a tese de David Ricardo, poderia até funcionar. As pessoas são mais eficientes em seu próprio ramo de atuação. Então elas doariam parte do dinheiro que ganham eficientemente para ONGs de todo tipo, que também eficientemente cumpririam suas metas. O problema da vantagem comparativa de David Ricardo é esquecer que às vezes a estrutura se torna tão grande que esquece a missão e passa ter como objetivo manter-se.
Supermercados de todo o mundo receberão nos próximos meses produtos rotulados como “Sustentável” e “Responsável”. A chancela é dada pelo WWF, Conservation International e Nature Conservancy, entre as maiores ONGs ambientais hoje. São as chamadas “mesas redondas de produtos responsáveis”, que do lado do agribusiness incluem Monsanto, Cargill, Nestlé, BP entre outras 98 empresas.
A coisa tem um certo apelo em sua superfície. As ONGs chancelam, o agribusiness se adequa e o consumidor em tese teria um produto melhor á disposição, mas o diabo mora nos detalhes. Se o assunto lhe interessa, beba direto na fonte em http://www.responsiblesoy.org/ e http://rsb.epfl.ch/ 
Os termos empregados pela coalizão da mesa redonda são amplos e genéricos. No caso da soja, por exemplo, a seção 4.2 fala em “Minimização da poluição e gestão responsável dos resíduos de produção”. Ignoro o significado preciso destas expressões. Não é possível saber o que fazer em uma unidade de produção rural com termos como este, porque gestão responsável é uma coisa para você e outra para mim.
Também não haverá fiscalização externa, nem do produto, nem das unidades de produção. Resumindo: As ONGs estão emprestando sua reputação em troca de muito pouco compromisso por parte do agribusiness.
Apesar de estar mais do que na hora para uma coalizão entre ambientalistas e agribusiness em nível mundial, não é produtivo fechar um contrato com termos tão abertos. Depois um vai achar caro, o outro barato demais e uma rara oportunidade de construir uma ponte terá sido demolida.
Não há saída para o consumidor a não ser prestar muita atenção em todas suas escolhas. Se voce quer conhecer o impacto associado à sua alimentação tem que olhar para cada um dos itens, saber o que é, de onde vêm, para então tomar decisões informadas.
Não há no mundo instituição com patrimônio moral para terceirizar suas decisões.

Um comentário:

  1. Na AmazÔnia está em franca discussão a introdução da palma, o popular dendê, em áreas degradadas. Grandes empresas (Petrobrás, Vale, Agropalma, etc) investem em grandes áreas de cultivo. A EMBRAPA elaborou o zonemaneto da palma, e o governo federal lançou o plano de expansão da palma, que tinha como norte incluir a agricultura familiar neste literal negócio. Os governos (estadual e federal) estabeleceram um pacote de bondades para isso, incluindo intensificação da assistência técnica, infreestrutura de produção e escoamento e linhas de financiamento específicas (PRONAF ECO, PROPFLORA, PRODUZA). Pouco se avançou, as empresas pressionam o governo, que por sua vez tem claros conflitos internos para desatar alguns nós, principalmente com a chegada de investidores asiáticos no negócio, que aos olhos de alguns setores do governo representam uma ameaça a pseudo "soberania nacional sobre a floresta intocada". Por se tratar de Amazonia, as ONG's entraram na disucussão, e buscam alinhar critérios socioambientais junto com empresas e governos, no âmbito da RSPO (www.rspo.org). A certificação está por conta do Instituto Biodinâmica (IBD), que a partir das discussões da RSPO criou um banco de critérios e ferramentas de avaliação de indicadores que até poderia ser interessante. Enquanto isso, no chão da realidade, pouca inclusão social e incertezas em relação a pergunta que não quer calar: a palma se estabelece onde já existia uma atividade economica de uso intensivo do solo. para onde migra esta atividade? Não estaria ela pressionando áreas florestadas nas bordas do zoneamento da palma?

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