O jogo da ciência é simples; Faça de um
jeito aqui, faça de outro ali e assim voce consegue conhecer a diferença entre
um jeito e outro.
Na semana passada foi publicado um artigo
no periódico científico Food and Chemical
Toxicology onde um grupo de ratos foi alimentado com uma dieta com 11% de
milho geneticamente modificado R-tolerant NK603 (Monsanto Corp.), com e sem
Roundup. Foi também testado um tratamento somente com Roundup, na dose de 1ppb
na água (equivalente a uma gota em 100 caixas de água de 1000 l).
Após 2 anos, houve desequilíbrios hormonais
associados a maior freqüência de câncer. 76% dos problemas encontrados foram
associados a problemas renais. Os machos apresentaram 4 vezes mais tumores e as
fêmeas apresentaram maior freqüência de tumores mamários e também mais precocemente
que a população de ratos controle, alimentada sem transgênicos e sem herbicida.
O artigo tem repercutido bastante entre
tomadores de decisão. Na França considera-se o banimento de produtos
transgênicos e nos Estados Unidos, espera-se que esta pesquisa, entre as
primeiras a serem publicadas sem subsídios da Monsanto, estimule os eleitores a
votarem muito menos que o banimento, pela simples identificação dos produtos
transgênicos. No próximo dia 06 a Califórnia votará a proposição 37, que
possibilitará inclusive que pesquisadores e profissionais entusiastas destes
produtos tenham uma dieta exclusivamente baseada neles.
Li as críticas ao artigo e elas não parecem
fazer sentido. Não há problema algum em ter um grupo controle comparado aos
três tratamentos. Nem tampouco há problema algum em usar a raça de ratos Sprague-Dawley,
com tendência a desenvolver tumores, porque afinal o controle, obviamente
empregou a mesma raça, para não falar no fato que o estudo que a própria
Monsanto apresentou para autorização do produto empregou também esta mesma
raça.
Este estudo ao menos clama pelo princípio
da precaução. Não há como prever como novas moléculas, processos ou substâncias
irão agir em nosso organismo ou no ambiente. Por isso, é melhor errar por
excesso de zelo. O primeiro trabalho publicado pelo meu orientador, Prof Otto
Solbrig, que ajudou a criar a biologia de populações de plantas como a
conhecemos, era sobre as vantagens dos inseticidas organoclorados. Nos anos 40
só enxergávamos até o ponto em que aquele produto permitia uma agricultura sem
insetos. Só muito depois enxergamos os problemas associados.
Demorou até que um pesquisador, independente dos
interesses de quem vende transgênicos, testassse o efeito destes produtos por
um período mais alongado, mostrando seus efeitos crônicos. Como voce pode ver,
a simplória visão de ciência lá do início não é suficiente para um mundo onde
gigantescos interesses determinam o que, quando e como seus produtos serão
testados.
Excelente fechamento: "a simplória visão de ciência lá do início não é suficiente para um mundo onde gigantescos interesses determinam o que, quando e como seus produtos serão testados"!
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