O Natal é uma época algo esquizofrênica para o
movimento ambientalista. Se por um lado tem em comum com ele a mensagem de
bondade e altruísmo, por outro tem os presentes por obrigação, um desperdício
de tempo e dinheiro para quem compra, de espaço para quem recebe e de recursos
naturais para todos.
Quando penso em Papai Noel, me vem à mente uma versão
obesa do Presidente Bush, que há onze anos, diante de um planeta amedrontado
pelo terrorismo, nos exortou não à reflexão, meditação ou oração, mas às
compras ! -Tá chateado ? vá comprar !
Já ouvi que a versão atual do Papai Noel foi criada
pela Coca-Cola. É mentira, eles não foram tão criativos assim. Outras empresas
de bebida até usaram o bom e consumista velhinho antes. A Coca Cola colocou
Papai Noel nas paradas de sucesso, mas não o inventou.
Do outro lado do espectro político (mas não da
corpulência) está Jose Pepe Mujica, o presidente do Uruguai que doa 90% do seu
salário, vive em um sítio simples e dirige um carrinho velho.
Ele tem sido chamado de asceta, mas discordo. Ascetas
renunciam ao prazer. Ele, ao contrário, se abstém de ter posses para aumentar
seu prazer, desfrutando daquilo que lhe agrada.
Ele mora em uma casa pequena ? Faz a faxina ele mesmo
com a mulher ? Talvez pareça exótico para quem nunca limpou uma privada, mas tem
a grande vantagem de não precisar de uma empregada, que segundo ele, termina
por ser a real proprietária de sua casa.
Desfrutar da própria casa é um prazer, mas você não
vai chegar lá, por maior que ela seja, se tiver que administrar um time de
funcionários. Quanto maior a casa, menor o desfrute.
As pequenas tarefas de casa podem ser fonte de
infindável prazer se feitas com criatividade, assim como ser mimado por um
exército de funcionários pode ser depressivo, como muitas vezes termina mesmo sendo.
Na mesma linha, um ex funcionário de Wall Street
(Salman Khan) transmutado em professor de centenas de milhões, diz que o maior
barato de todos é aprender. Aprender não é obrigação, é um divertimento.
Espero que neste Natal
demos juntos o maior passo possível para mudarmos nossos valores. Não sendo
possível nos transformarmos no ideal de Professor Khan ou Mujica Marins da
noite para o dia, que ao menos façamos algo que nos faça crer que a mudança é
possível. E também nos lembremos que mesmo estas figuras inspiradoras têm sempre
lá suas contradições. Eles também estão, espero que estejam, brigando dia a dia
para se tornarem seres humanos melhores. Que façamos igual.
Nao sei por que demoro tanto a vir aqui ler o que vc postou. Sempre me agrada o que leio. Feliz 2013 para vc e sua familia. Do Canada, Shirley.
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