Na semana passada aproveitei uma folga em um curso que estava dando em
Boa Vista-Roraima, para ir conhecer um país de misses e praias de azul
caribenho. Infelizmente em um dia na Venezuela não deu para conhecer nenhuma
praia e muito menos alguma miss na divisa do Brasil com o distante estado de
Bolivar, ao sul.
Como seria o mundo se a gasolina custasse R$ 0,06?
As filas para abastecer cruzavam a fronteira e entravam Brasil adentro.
A Venezuela é um laboratório interessante sobre como os benefícios da vida moderna
só podem mesmo ser para poucos. Se todos forem andar de carro, termina que
ninguém anda. Se todos queimassem carbono, estaríamos muito mais queimados que
já estamos.
Ao redor do mundo, o preço do combustível nunca cobre a totalidade dos
custos (em especial os ambientais). Se o combustível incluísse, por exemplo, o
custo de manter ruas e estradas adicionais para esta infinidade de automóveis,
a gasolina custaria ainda mais que na Noruega (R$ 3,43/l), o único pais
produtor que destina os lucros para educação.
É por isso, alias, que COP atrás de COP e nada se decide. Ninguém quer
colocar a mão no bolso e pagar pela conta da limpeza. É como se você fosse a um
restaurante e pagasse só a comida, deixando de lado a lavagem dos pratos e
limpeza da cozinha.
A dependência exagerada de um país em um único e caro produto de
exportação já é um problema em si porque valoriza a moeda, e isto complica a
produção interna. Os Economistas chamam isto de doença holandesa. No caso do Venezuela
também se criou uma dependência generalizada da queima do petróleo, ficando
refém desta idéia poluidora e ultrapassada.
Ao sul da fronteira com a Venezuela o combustível é ainda mais caro que
no resto do pais. O alto preço do combustível em nosso pais, se não trouxe a
educação e a saúde que gostaríamos, ao menos trouxe uma cultura de uso
eficiente da gasolina. Nossos carros diminuíram e usam bastante álcool. Todos
gostaríamos de haver mais transporte público. Já pensou como seria se o
combustível fosse barato ?
A falta de recursos naturais pode ser degradante, humilhante até, mas
estimula o uso racional de recursos. A intensa economia de recursos da
agricultura asiática ancestral, por exemplo, fez com que centenas de milhões de
pessoas vivessem por séculos em uma região com falta crônica de água, sem
florestas e com solos bastante rasos.
O caminho que a Venezuela está trilhando é perigoso e
seria bom que mudasse para que o mundo não perca um lindo país cheio de misses,
praias caribenhas e tepuys.
Olá, Efraim.
ResponderExcluirSou leitor do seu blog e gosto muito do que você escreve.
Embora não seja o tema central deste post - com o qual concordo plenamente - o último parágrafo traz uma mensagem equivocada. Isso porque dá a impressão de que o "caminho que a Venezuela está trilhando" seja algo recente, quando na verdade é o contrário.
O caminho que nossos amigos venezuelanos trilham desde o início do século XX é o de viver na dependência do petróleo. Nos últimos 13 anos, porém, tem havido um esforço muito grande para mudar essa situação. Infelizmente, não parece tão fácil mudar as coisas e a "fotografia" que você tirou ainda vem com as cores das opções pretéritas daquele país.
Isso tudo reforça que a Sustentabilidade, além de demandas econômicas, ecológicas e sociais, é fortemente influenciada pela política.
É isso. Obrigado.
(para saber mais do que expus, um bom começo é:
http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2509:catid=28&Itemid=23)