É compreensível que empresas petrolíferas gastem fortunas em
campanhas de desinformação sobre as alterações climáticas. Pode não ser lá muito
humano colocar investimentos em combustíveis fósseis acima de bilhões de vidas
humanas, mas ao menos é fácil compreender sua motivação.
No entanto, tenho dificuldade para entender o que pretendem algumas
revistas e jornais que parecem desinformar de propósito, repetidamente.
Há duas semanas, a Veja deu duas folhas para a grande
novidade que o aquecimento global não existe porque a temperatura de dez anos
atrás foi igual a de hoje, como se um sistema complexo como o planeta tivesse a
obrigação de aquecer-se por igual. Pegue o aumento de temperatura maciço e indiscutível
desde a revolução industrial e você encontrará não um, mas vários períodos em
que a temperatura foi igual a algum momento no passado. Umas semanas antes o
Daily Mail publicou o mesmo gráfico, que a Veja cortou e colou sem ao menos
citar a fonte. Na última semana eles voltaram à carga dizendo que vincular o recente
tornado de Oklahoma com aquecimento global é um desrespeito às famílias das vítimas.
Ao contrário, as vítimas e suas famílias tem o direito de
saber se o mal que sofreram seria evitável. Canhestramente dizer que a região
sempre foi acossada por tornados é muito raso. Quase todos problemas ambientais
de hoje eram naturais no passado, mas em menor intensidade. Erosão, extinção de
espécies, queimadas, eutrofização de águas. Não inventamos nada disto, só
aprimoramos.
A realidade da literatura sobre aquecimento global e eventos
extremos é ainda dúbia no que diz respeito a tornados. O aquecimento pode não
ter efeito sobre efeito sobre eles, como também pode, ao contrário das secas e
furacões para os quais a conexão é mais clara.
Atrás disto está a simples vontade de vender. O público que
ainda se informa através de um único veiculo, e em papel, é cada vez mais
conservador. Esta desinformação é a miçanga e o espelho dadas aos índios em
troca do ouro de sua atenção.
E cada segundo que gastamos provando que existe, é um a
menos para decidir como vamos nos adaptar às mudanças em curso.
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