Na semana que passou, usei meu forno
Franklin em tempo integral, por causa das chuvas e do frio no Paraná. Este tipo
de forno foi inventado por Benjamin Franklin no século 18, mas só passou a ser
utilizado no século 19, quando a lenha começou a rarear. Mesmo que a lenha que
toca o forno seja o resto da obra, pedaços de taboas velhas com prego, é sempre
bom saber que estou tirando o máximo de um recurso natural.
Há uns 15 anos, eu falava sobre aquecimento
global para meus alunos em Harvard. Era uma conversa difícil, com -20 graus lá
fora. Dá trabalho convencer as pessoas de uma coisa real, mas que contradizia a
percepção imediata.
Muito mais esperto que eu, foi o Presidente
Obama ao fazer um pronunciamento histórico sobre o clima, ao colocar sua
platéia debaixo do sol de verão e de cara convidá-la a tirar o paletó.
Como há muita gente falando deste
pronunciamento histórico, resolvi não ouvir ninguém a não ser o próprio. Fui
direto no pronunciamento de 48 minutos.
Inevitavelmente, a conversa começou com
dados maravilhosos sobre a redução porcentual da emissão de carbono nos últimos
anos. Nenhum dado absoluto, porque os Estados Unidos são o segundo maior
poluidor do planeta, com menos de um terço da população do maior emissor de
carbono, a China. Ou seja: por cabeça, não tem competição, eles são largados na
frente o maior emissor de carbono do planeta (isto ele não falou).
Ao longo de todo discurso ele foi bastante
irônico com a maneira que os conservadores encasquetam com Carbono, e cita como
há parâmetros de emissão para Mercúrio, Enxôfre e Arsênico, e como eles
ajudaram a estabelecer isto, mas o Carbono ao, que parece, virou uma questão de
honra, o que é visível também no Brasil. Nenhuma outra questão é capaz de levantar
o interesse dos alunos como esta. Há coisa de um mês fiquei em um ping pong com
alunos no facebook (aliás, vejam mais um lance deste diálogo em meu blog http://bit.ly/T4rXVg ), o que é impossível com
qualquer outro tema.
Ainda não se sabe se os EUA e suas inúmeras
instituições irão receber este pronunciamento, mas nunca antes um presidente se
manifestou tão claramente sobre o assunto, comprometendo-se a manter a
tendência de aumentar a proporção de fontes limpas de energia e repassar
tecnologia para que os países em desenvolvimento passem mais rapidamente pela
fase de grande consumo de carbono.
Outro ponto importante foi o reconhecimento
que outros países têm direito aos mesmos carros e ar condicionados que os EUA.
Muito mais que estas reuniões inúteis da
ONU, este discurso marca uma virada na posição dos EUA. O gigante, afinal,
acordou.
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