quarta-feira, 3 de julho de 2013

O gigante acordou

Na semana que passou, usei meu forno Franklin em tempo integral, por causa das chuvas e do frio no Paraná. Este tipo de forno foi inventado por Benjamin Franklin no século 18, mas só passou a ser utilizado no século 19, quando a lenha começou a rarear. Mesmo que a lenha que toca o forno seja o resto da obra, pedaços de taboas velhas com prego, é sempre bom saber que estou tirando o máximo de um recurso natural.
Há uns 15 anos, eu falava sobre aquecimento global para meus alunos em Harvard. Era uma conversa difícil, com -20 graus lá fora. Dá trabalho convencer as pessoas de uma coisa real, mas que contradizia a percepção imediata.
Muito mais esperto que eu, foi o Presidente Obama ao fazer um pronunciamento histórico sobre o clima, ao colocar sua platéia debaixo do sol de verão e de cara convidá-la a tirar o paletó.
Como há muita gente falando deste pronunciamento histórico, resolvi não ouvir ninguém a não ser o próprio. Fui direto no pronunciamento de 48 minutos.
Inevitavelmente, a conversa começou com dados maravilhosos sobre a redução porcentual da emissão de carbono nos últimos anos. Nenhum dado absoluto, porque os Estados Unidos são o segundo maior poluidor do planeta, com menos de um terço da população do maior emissor de carbono, a China. Ou seja: por cabeça, não tem competição, eles são largados na frente o maior emissor de carbono do planeta (isto ele não falou).
Ao longo de todo discurso ele foi bastante irônico com a maneira que os conservadores encasquetam com Carbono, e cita como há parâmetros de emissão para Mercúrio, Enxôfre e Arsênico, e como eles ajudaram a estabelecer isto, mas o Carbono ao, que parece, virou uma questão de honra, o que é visível também no Brasil. Nenhuma outra questão é capaz de levantar o interesse dos alunos como esta. Há coisa de um mês fiquei em um ping pong com alunos no facebook (aliás, vejam mais um lance deste diálogo em meu blog http://bit.ly/T4rXVg ), o que é impossível com qualquer outro tema.
Ainda não se sabe se os EUA e suas inúmeras instituições irão receber este pronunciamento, mas nunca antes um presidente se manifestou tão claramente sobre o assunto, comprometendo-se a manter a tendência de aumentar a proporção de fontes limpas de energia e repassar tecnologia para que os países em desenvolvimento passem mais rapidamente pela fase de grande consumo de carbono.
Outro ponto importante foi o reconhecimento que outros países têm direito aos mesmos carros e ar condicionados que os EUA.
Muito mais que estas reuniões inúteis da ONU, este discurso marca uma virada na posição dos EUA. O gigante, afinal, acordou.


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