sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Quatro mil anos

Quando você ouve falar em Mata Atlântica, pensa logo na proximidade com o Oceano, mas nem imagina os efeitos que este Oceano pode ter 500 km para o interior, em Londrina, ou até mais longe.
A umidade quente que vem do litoral influencia a Floresta Atlântica daqui em sua diversidade e tamanho. A coisa não é simples como a raiz das árvores penetrando as entranhas da terra roxa. As raízes liberam ácidos orgânicos, abrem fendas, a raiz faz o solo e o solo faz a floresta, eles são um só regados pelo Oceano.
Estes dois vêm se relacionando há centenas de milhões de anos, mas recentemente resolvemos separá-los. Pouparei você dos motivos, mas os resultados são conhecidos. De um lado precisamos ficar forçando a vegetação a ser o que não é, e isto é tão complicado que exige um treinamento agronômico de cinco anos só para aprender os rudimentos. Do outro lado fica um solo solto, erosível, ou duro como um tijolo.
As soluções são todas complicadas e demandam trabalho e paciência. É possível produzir comida mantendo algumas das funções da floresta, assim como é também possível “consertar” esta floresta, ao menos em parte, ao menos alguns pedaços.
Há um trabalho de pesquisa da minha amiga Marcia Marques, de Curitiba, que estimou quanto tempo se leva para restaurar a unidade da Mata Atlântica.
Preste bem atenção aqui, por que restaurar a Floresta é bem mais que plantar umas arvorezinhas. Restaurar a Mata Atlântica é também trazer de volta também aquelas espécies de árvores dispersas por animais. Para estimar o tempo que isto pode levar, a Marcia estudou as restaurações existentes, e pelo andar da carruagem nos primeiros anos, ela estimou que uns 300 anos devem ser suficientes.
Restaurar é também trazer espécies muito raras, algumas que nem nome ainda têm. Com que velocidade espécies com tempo de geração tão longo se movem ? Quanto tempo leva para uma árvore crescer, dispersar suas sementes e a alguma distância as sementes crescerem, dispersarem de novo e assim terminarem por reocupar uma área ?

Quatro mil anos. Pense bem antes de fazer bobagem na Mata Atlântica.

2 comentários:

  1. Cumprimentos Efraim Rodrigues!

    A discussão relacionada com temas TEMPO e ESTRUTURAS DE FLORESTAS, particularmente na Mata Atlântica, têm despertado minha atenção.
    Meu questionamento sobre o post acima é justamente aos "quatro mil anos". Quatro mil anos para que? Para uma estabilização dos ecossistemas da Mata Atlântica?
    Há uma dinâmica contínua nos ecossistemas de florestas tropicais e que justamente criam uma enorme diversidade de ambientes. Esta dinâmica é intrínseca da própria ecologia da regeneração bem como de fatores sociais que transformam estes ecossistemas.
    Acredito que não há um tempo "ideal", e sim um tempo 'real' que envolve principalmente questões sócio-ecológicas.
    As florestas secundárias têm enorme potencial para conservação do Bioma Mata Atlântica e serão (devem) mantidos neste estágio de sucessão através de seus usos diretos e indiretos.
    Não no sentido do 'idealismo", mas acreditar que quatro mil anos poderá ser suficiente para 're-caracterizar" a Mata Atlântica parece distante das projeções futuras que caminham a humanidade.
    Acredito que o texto postado acima estimula uma profunda discussão sobre características fitossociológicas da Mata Atlântica no tempo, e que a sociedade precisa rever seus valores determinados para estas formações florestais tão importantes.
    Se não mudarmos nossa percepção sobre o uso e conservação de florestas nativas, talvez quatro mil anos possa ser muito tarde.

    Geferson Elias Piazza
    Engenheiro Florestal - UFPR
    Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas - UFSC
    Laboratório de Ecologia e Manejo de Ecossistemas Florestais - LEMEF

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  2. Oi Geferson, obrigado pelo trabalho de comentar. Sim, este artigo cumprirá sua função se suscitar uma discussão mais ampla sobre a Mata Atlântica. Respondendo sua pergunta, como está ai no texto, são 4000 anos estimados para retornarem as espécies mais raras de árvores e 300 para as dispersas por animais.

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