Não foi o
primeiro calafrio do mundo, nem tampouco o mais importante.
No meio do
século 19, um Wallace impedido de mover-se pelas chuvas e tomado pela malária,
redigia uma carta para Darwin, descrevendo em detalhes a teoria em que ele, Darwin,
trabalhava há décadas. A carta de Wallace precipitou a impressão do Origem das
Espécies. Se você tem dificuldades para entendê-lo, culpe os microorganismos de
Wallace, assim como se você precisa de mim para qualquer coisa neste fim de
ano, culpe o H1N1 que fez do meu corpo uma sopa vibrante de vírus.
Longe de
qualquer idéia útil, em meus transes noturnos visualizei aquele batido enredo
de ficção científica no qual um terrorista biológico espalha vírus letais por
todo mundo usando uns poucos aeroportos.
Vivemos em uma
sopa de microrganismos nocivos e ainda por cima garantimos que qualquer
“novidade” tenha acesso rápido a todo planeta.
Não tenho
como saber se me contaminei através dos coleguinhas do Pedro na escola, através
dos meus alunos, em um aeroporto, palestra ou festa de aniversário. Tenho
certeza que não foi em um Luau, o violãozinho na praia me torra a paciência.
Além da
contaminação toda, também submetemos nossos rebanhos de animais a doses
preventivas de antibióticos, que criam condições ideais para o aparecimento de
linhagens resistentes de microorganismos. Estes você não precisa pensar de onde
vem. Estão em seu prato de comida.
Os recebemos
também pela água mal tratada de nossas torneiras e se você acha que aquilo que
se vende dentro de uma garrafinha de plástico transparente é um liquido seguro,
esqueça. Muitas vezes é água de torneira mesmo, leia as letrinhas no rótulo com
atenção. Nem perca seu tempo consultando um advogado. Não há lei que impeça uma
grande empresa de vender água de torneira, ainda mais se ela o “informa” do que
está fazendo.
Com tantos
contaminantes e tanto fluxo entre populações, é surpreendente que ainda não
tenha aparecido o microorganismo letal que fará com que todos problemas da
humanidade, incluindo os ambientais, se tornem irrelevantes.
Já tive minha
amostra de como será esta visão do fim do mundo, delirando às três da manhã na
Serra do Cipó. Acreditem, não será bonito.
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