A ascensão das classes
C e D brasileiras é reconhecida até pela oposição, mas vale a pena olhar isto
com mais atenção. Atenção ambiental e de qualidade de vida, não só econômica.
É lindo imaginar as
pessoas com mais dinheiro e vivendo melhor. Em algum canto de nossa mente vemos
aquela mulher que carrega água na cabeça comprando tubos e bombas, imaginamos
esgotos a céu aberto sendo tratados. A realidade é diferente.
Resolvi ir atrás de
dados quando li sobre o morador do Alemão que pintou a parede e comprou um
móvel novo para uma TV que acabou destruída. Junte esta história com esta
outra: Metade dos alunos de 15 anos não sabe ler (repito, alunos, não se
considerou jovens não-alunos) e você facilmente chega à terceira: Consumidores com
renda entre 500 e 1000 reais respondem por uma alta de 43,9% na demanda por
crédito no ano (índice Serasa). Este é crédito exclusivamente para consumo, não
para melhorar de vida. O banco fica com os juros e você com a obrigação de dar
um fim para o e-lixo.
Assim como no
escravagismo de fato, este também obriga as pessoas ao trabalho e o resultado
não é a melhora de vida de todos, mas acumulação de poucos. O que todos
terminam por dividir, consumidores ou não, é a degradação de recursos naturais:
água, minerais e energia necessários para construir o último objeto com vogais
repetidas (por que a indústria tem obsessão por nomes com vogais repetidas ?).
Os gregos já resolveram
isto há muitos milhares de anos. Para eles, quem trabalhava com matéria
(engenheiros, artesões, construtores, médicos, etc) eram todos escravos. Quem
podia, trabalhava com idéias; professores, filósofos, poetas e músicos eram as
profissões mais consideradas.
Este neo-escravagismo
obriga as pessoas a trabalhar como loucas para consumir de maneira igualmente
insana. O grilhão é aparentemente menos dramático por não ser de ferro, mas é
muito pior por prender as pessoas pela mente. Um escravo podia ao menos tentar
fugir para um quilombo, mas para onde foge alguém cuja mente foi aprisionada ?
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