O interior
de São Paulo já foi chamado de a “Califórnia Brasileira”. Hoje esturricam
ambas.
Gerir a
água de maneira sustentável é complicado, porque ela é tão essencial quanto
pesada. Sua geração e conservação estão dispersas em inúmeros riachos e
nascentes e refletem a ancestral dificuldade de abrir mão de um pouco do seu
para que todos tenham mais, tal como no milagre dos pães, que muitos
interpretam como mover pessoas para que esvaziem os bolsos e encham a mesa
comum.
A briga de
foice no escuro começa na hora de decidir se a água irá para esta ou aquela
finalidade. Também neste aspecto se igualam a Califórnia e o interior de São
Paulo.
As
complicações com a água se multiplicam para todo lado. Olhando para o norte,
está faltando a língua de água vinda da Amazônia. Olhando para o planeta como
um todo, quanto mais quente, menos água líquida e mais vapor, que não é muito
útil. Olhando na direção da capital, ela precisa de cada vez mais água e
iniciativas banais como guardar água da chuva são, ainda hoje, vistas como
exotismos românticos descartados já nas primeiras etapas dos projetos
arquitetônicos.
As
perspectivas são ruins porque precisamos de pessoas que criem mais sombra de
árvore, que cubram o solo, que obstruam a água morro abaixo, e nada disto é
chique.
Aqui e ali há
pequenos motivos para otimismo. A sujeira da cidade de São Paulo, que antes se extendia
até Barra Bonita, a centenas de km, agora já não passa de cem km, mostrando o
resultado de um esforço grande, porém invisível, de limitar o aporte de esgoto
no rio símbolo daquele estado.
Também lá
na Califórnia, o principal viveirista, John Duarte, está preocupado em criar
novas variedades de frutíferas resistentes a salinidade e falta de água.
Nosso
estado hídrico não é nada mais que uma expressão de nossa miséria ética e
moral. Fico até feliz que não haja soluções tecnológicas para resolvermos o
problema mantendo o atual estilo de vida. Senão for por vergonha, quem sabe por
sede poderemos nos tornar seres humanos melhores.
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