sábado, 6 de junho de 2015

O certo pelo motivo errado

Nesta semana os Estados Unidos tomaram uma medida importante para tentar evitar o progressivo declínio das colméias de abelhas em todo mundo desenvolvido, que talvez também esteja ocorrendo por aqui, desapercebidamente. De uma canetada, foi determinada a restauração de quase 3 milhões de ha de ambientes positivos para polinizadores.
Isto é bom ou mal?
Além da parte obviamente positiva, este decreto tenta esconder a real causa do problema que são os inseticidas neonicotinóides, amplamente usados na agricultura veja uma coluna de 2014 .
Não há reserva que resolva enquanto as abelhas estiverem morrendo como moscas (não perdoem o trocadilho).
Não precisa ir longe para ver o certo sendo feito pelo motivo errado. Depois de fugido o cavalo, São Paulo está, por diferentes meios, consertando a cerca e estimulando a restauração florestal na Cantareira.
Faz mais de século que sabemos que árvores retiram água do solo. Mesmo considerando o tanto que elas ajudam a infiltrar, há um débito. Árvores melhoram a qualidade da água, mas reduzem sua quantidade.
Como o Governo de São Paulo tem demonstrado estar disposto a servir qualquer tipo de água para resolver o problema, o coerente seria cortar árvores para reduzir a evapotranspiração.
Os benefícios das árvores vão da física à psicologia, mas mesmo elas podem ser usadas para iludir. O óbvio e histórico problema de São Paulo é falta de mecanismos de conservação e redução de consumo, mas isto envolve parar de passar a mão na cabeça do cidadão e informá-lo, mas qual político correrá o risco de fazer o certo pelo motivo certo?
Em Londrina, a Prefeitura e alguns vereadores querem por que querem (e por que querem tanto ?) criar um novo distrito industrial próximo ao maior fragmento de floresta em centenas de km, a Mata dos Godoy.
Ainda que seja sempre correto visar o desenvolvimento e a geração de empregos, a tentativa esconde certa luxúria imobiliária. A cidade já tem distritos industriais, e eles estão longe de cheios. A cidade como um todo, aliás, tem mais de 50% de terrenos vazios.
Falando em emprego, fico com dó de ver quase todos ambientalistas da cidade gastando seu precioso tempo em reuniões modorrentas para falar o óbvio, mas talvez seja este mesmo nosso sacerdócio.
Também na conservação existe a conhecida estratégia de usar espécies-bandeira. A idéia é conseguir recursos para a conservação de determinada espécie carismática como baleias ou mico-leões dourados e daí usa-los para conservar o ambiente destas espécies, que naturalmente envolve muitas e muitas outras espécies. É uma estratégia tão clássica que já nem mais assusta ninguém, mas é aí que mora o perigo.
Mas é de balela em balela, mesmo que pequenas, com baleias, que o mundo vai ficando como está.



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