Foi lá pelos anos 80 que vi um livro sobre o conceito de
capacidade de carga, escondido em uma biblioteca. Isto foi nos tempos em que a
gente ainda esbarrava em idéias novas em Bibliotecas.
Aquilo foi uma ficha, talvez um fichário inteiro, que caiu
para mim. Quantos animais ou quantas pessoas uma área é capaz de manter? As
idéias ecológicas se uniram a Malthus ali mesmo, no chão da Biblioteca (nesta
época eu podia sentar no chão).
Se houver gente demais, ou se cada um usar recursos demais,
a coisa degringola. Você vai encontrar exemplos em sua casa, cidade, país ou
planeta, onde quiser.
A idéia me impressionou tanto, que quis até trabalhar com
ela, mas na época era impossível. Como medir estas coisas de verdade, como
colocá-las em prática ?
Ainda que nos 80 já tivéssemos visto aquela imagem
fortíssima da Terra como uma limitada (ainda que gigantesca) bolinha de gude,
tirada a meio caminho da Lua, ela ainda era somente isto, um ícone, um símbolo
forte, mas de pouco uso prático.
Nesta semana demos um passo importante para pensar o
ambiente do planeta como um todo. Foi lançado o satélite DSCOVR que estacionará
em um ponto onde a gravidade da Terra anula a do Sol, e que é distante o suficiente
para enxergarmos o planeta todo de uma vez.
Esta visão ampla é cada vez mais necessária se quisermos
entender um pouco o que vai acontecer enquanto o planeta se aquece. Por que,
por exemplo a minha querida cidade de Boston se enterra em neve enquanto o
planeta se aquece? É que com a água do mar mais quente, evapora mais umidade
que em contato com o ar frio... E por que a minha querida cidade de Londrina
enfrenta secas cada vez mais extensas? E não só ela, mas boa parte da Califórnia,
Austrália e África também. Esta já é mais difícil de desvendar, porque
interagem efeitos locais e globais. Em 110 dias, quando começarmos a enxergar o
planeta todo continuamente, iremos entender isto, e quem sabe então tomar
algumas medidas concretas para evitar que em 100 anos sejamos duas colônias de
poucos milhões de pessoas morando nos pólos.
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