Ah ! O dia do ambiente...
Sinto a sintonia espiritual ao redor do mundo. Fecho os olhos e em um segundo me conecto com um sem número de desperdiçadores de água, consumidores, ostentadores, proprietários de animais recreativos entre outras tantas tribos que neste 6/06 irão “fazer a sua parte”.
Irão ver a pecinha de teatro na escola, plantar arvorezinha, bater no peito e dizer que brasileiro é mal educado, joga lixo na rua.
Amanhã já haverá outra efeméride, e precisaremos colocar nossa cabeça no dia dos namorados, do cachorro, da internet, cada dia tem uma.
Um extraterrestre não entenderia porque temos tantos problemas ambientais se tanta gente fala a favor. Isto, porque extraterrestres, imagino, teriam dificuldade em captar este traço tão humano e tão sutil, a hipocrisia.
O modo mais fácil de livrar-se de alguma coisa é escolher um dia, dedicar-se um pouco para poder então esquecer no resto do ano.
Os ambientalistas que criam estas datas têm um trabalho enorme, e o fazem porque crêem que a divulgação, o espaço na mídia, será importante para a causa.
Talvez não tenhamos notado que há uma grande diferença entre a intenção real de contribuir e a conversa. A mídia fala muito sobre ambiente, mas os problemas só se resolvem quando algum tipo de interruptor (estaria fora da Terra, sob controle de algum extraterrestre?) liga e as pessoas passam a fazer mais que sua parte, fazem o que é necessário.
Talvez esteja errado, a maioria certa. Nesta semana, um dos maiores nomes da fotografia da natureza foi de ônibus caminhar na praia. Na volta, passou mal e ficou por uma hora sem atendimento diante de um Hospital do Coração. Estivesse a bordo de um carro, Luiz Cláudio Marigo provavelmente teria tido atendimento. Como usou transporte coletivo, mesmo tendo condições para usar o individual, o fotógrafo não foi considerado merecedor de atenção.
O recado do dia mundial do meio ambiente é para usar ônibus, mas o recado do dia 02 é que quem usa ônibus não é gente.
Otimisticamente, espero a criação do dia da ganância selvagem, da ostentação e do egoísmo. Quem sabe então o mundo será melhor nos outros 364 dias.
Muito bom. Marigo era uma referência para muitos de nós, observadores de aves, fotógrafos e ambientalistas. Sua morte foi um choque para todos, assim como me choco diariamente com gente que mantém esse discurso hipócrita mas com pegada ecológica aterrorizante. Parabéns pelo texto.
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