sexta-feira, 18 de julho de 2014

Glifosato; está claro ou precisa desenhar?

Pouca gente lê os artigos científicos que são a razão de viver de professores universitários e pós-graduandos de hoje em dia, mas há um trabalho que merece sua atenção porque alerta para uma substância muito usada na agricultura, cujos danos ocorrem a longo prazo.
A história não é de nenhuma forma nova. O Professor Otto Solbrig, meu orientador em Harvard, por exemplo, publicou seu primeiro artigo científico sobre a maravilha que iria ser a agricultura sem insetos que os organoclorados iriam possibilitar. Como os organoclorados causam benefícios a curto prazo (matam os insetos) e prejuízos a longo prazo (câncer em mamíferos), levou algum tempo para que as pessoas percebessem o problema. Naturalmente, os fabricantes não ajudaram muito para conhecer os problemas associados aos organoclorados.
Hoje os organoclorados estão banidos e esta história é passado. A substância da vez é um mata mato, ou herbicida como preferem os agrônomos.
O Glifosato é usado em todo o mundo, e recentemente a invenção de plantas como soja e milho que são resistentes a ele viabilizou sua aplicação após o plantio. Você deixa o mato crescer, porque poderá mata-lo mesmo com a cultura crescida, não é maravilhoso?
Seria, se a história parasse por aí. Em 2012 Gilles-Éric Séralini publicou o primeiro artigo que acompanhou ratos durante toda sua vida, comparando grupos que se alimentaram de milho R-tolerant NK603 9 (resistente a glifosato), assim como um grupo que bebeu água com 1ppm de glifosato, que equivale a colocar uma gota em 100 caixas de 1000l. Escrevi uma coluna sobre isto em setembro de 2012. A grande diferença deste estudo foi não parar depois de alguns meses, acompanhando os ratos por toda sua vida.
Vi que o artigo havia acertado na mosca quando li as criticas da Monsanto, descabidas tanto biológica quanto estatisticamente, apesar da altíssima qualificação de seus pesquisadores, e por isso fiquei muito surpreso quando o periódico “despublicou” o artigo em 2013, mas logo entendi quando descobri que o novo diretor da revista é ligado a Monsanto. “Despublicação” é para fraudes, e esta desconfiança não existe em relação a este artigo.

O último lance da novela é que o artigo passou por uma nova revisão por pares e foi “republicado” em outro periódico, Environmental Sciences Europe, que avaliou o artigo agora pela terceira vez, atestando que glifosato, mesmo em pequenas quantidades, e a variedade de milho geneticamente modificada R-tolerant NK603 perturbam o sistema endócrino de ratos, levando ao aumento de incidência de câncer. Está claro ou precisa desenhar?

Um comentário:

  1. Oi Efraim,
    Me chamo Luiz Cabral e gostaria de comentar seu post. Infelizmente, meu comentário e mito grande e não cabe na sua caixa de comentários. Você poderia me passar seu email?
    Um abraço,
    Luiz

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