sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Minhocário ou Compostagem?

Termina hoje, dia 2 de agosto, o prazo dado pela lei 12305 de 2010 para que todos municípios brasileiros construam seus aterros sanitários.
Por isso é positiva, a priori, a iniciativa da cidade de São Paulo de distribuir vinte mil caixas plásticas para o uso de minhocas para transformar lixo doméstico em adubo orgânico é a única solução ambientalmente adequada para o problema.
A alternativa é bem intencionada mas tecnicamente inadequada.
Minhocas não comem todos resíduos. Não comem alimentos temperados, com óleo, cascas de frutas cítricas, de cebola. Colocando algumas destas sobras no substrato onde estão as minhocas, elas irão fugir por onde puderem e a decomposição para. A cada vez que elas fogem, é necessário conseguir novas minhocas para reiniciar o processo.
Igualmente, se as minhocas ficarem algum tempo sem comida, porque a família se ausentou, por exemplo, elas também morrem, obrigando mais uma vez, conseguir novo lote de minhocas.
Por estes dois fatores, a minhocultura é uma atividade que exige dedicação e conhecimento para que seja bem sucedida. É difícil encontrar uma família urbana com tal nível de abnegação.
Há uma outra alternativa, que deveria ser considerada pela Prefeitura de São Paulo.
Há milhares de anos microorganismos são utilizados para a decomposição de resíduos, ao redor do mundo, na Índia, China, Inglaterra durante a Idade Média.
Há quase uma década, alguns alunos universitários e professores do ciclo básico temos ajudado escolas e casas a compostar seus resíduos. adaptamos este conhecimento ancestral para a realidade atual.
A transformação de lixo em adubo deve ser simples e barata se quisermos que seja amplamente adotada. Qualquer caixa plástica de frutas se presta a receber todos resíduos orgânicos, incluindo resíduos animais, alimentos processados, salgados, com óleo, absolutamente todos resíduos que saem de uma cozinha. 
Nas escolas, as composteiras frequentemente têm sua adição de resíduos interrompida
Por uma década compostamos todos resíduos de cozinha em meu próprio apartamento. Neste tempo adaptamos a tecnologia para o ambiente doméstico urbano.

A sugestão para a Prefeitura de São Paulo, sem prejuízo da boa intenção edo idealismo, é necessário um pouco mais de experiência antes de iniciar um projeto em tão grande escala.

6 comentários:

  1. Caro Efraim o objetivo dessa primeira etapa do incentivo à compostagem domiciliar no município de São Paulo é justamente esta: aprendizagem. Como você, também estou na torcida para que aprendam logo as vantagens de um e de outro sistema. O PGIRS de São Paulo não indiciou vermicompostagem como técnica, mas compostagem, similar à que você vem desenvolvendo. Veja em detalhes o PGIRS de São Paulo em http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/servicos/arquivos/PGIRS-2014.pdf

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  2. Esqueci de dar o meu email... zaziaranha@gmail.com

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  3. Minha experiência pessoal sobre vermicompostagem se opõe diametralmente à que apresentara em seu texto. Como praticante da compostagem doméstica há 15 anos, vermicompostagem há 7 anos e como empreendedor neste segmento, afirmo que suas preocupações sobre fuga de minhocas e quebras no ciclo de alimento para as mesmas não encontram confirmação prática nem na minha experiência nem nos mais de 2.000 domicílios os quais já implementamos esta técnica. Colocando uma carga de alimentos na composteira antes de uma viagem, é possível deixar o sistema livre de interferências por até 3 meses.

    Ainda, trabalhando também com esta técnica em refeitórios empresarias (onde há alta incidência de alimentos cozidos e oleosos), verificamos que a afirmação de que “colocando algumas destas sobras no substrato onde estão as minhocas, elas irão fugir por onde puderem e a decomposição para” também não se confirma. Hoje, tratamos com esta técnica mais de 300 toneladas de resíduos orgânicos mensalmente em diversas residências e empresas do Brasil, e não observamos estas barreiras ou fenômenos que o senhor coloca.

    Para conhecer melhor a técnica e tirar conclusões com a prática e experiência, te convido a praticar a vermicompostagem doméstica em sua residência. Não necessariamente para substituir a técnica que você está habituado, mas principalmente para ampliar seu repertório vivencial para escrever sobre o assunto com mais propriedade. Para isso, não há a necessidade de fazer a composteira em caixas, basta inserir algumas minhocas vermelhas na composteira do seu apartamento. Como a eficiência da vermicompostagem aumenta na medida em que a população de minhocas cresce, quanto mais tempo de uso, maior é a aceleração do processo. Para esse experiência, sugiro você praticar por pelo menos 3 ciclos de compostagem. Se depois você não quiser mais a aceleração e o enriquecimento do adubo que as minhocas proporcionam, basta tirá-las da composteira e doá-las para alguém (não faltará interessados).

    A questão dos resíduos é um problema complexo, logo, suas soluções também serão. O projeto não se coloca, de forma nenhuma, como a única solução para o tratamento de resíduos orgânicos. Para não nos aprisionarmos em um embate de experiências, proponho evoluirmos este debate para outros rumos: enxergamos o projeto Composta São Paulo como processo e não necessariamente como solução. Por isso, dividirei abaixo, algumas das crenças, visões e detalhes sobre esta iniciativa que toda equipe do projeto compartilha, para que possamos evoluir de uma discussão binária, do sim ou não, certo ou errado, para algo mais construtivo e amplo:

    1. A discussão sobre o tema “produção e tratamento de resíduos” ainda é muito restrita aos meios acadêmicos e poder público. Faz-se urgente ampliar a discussão e incluir a sociedade, tanto em termos de responsabilização, quanto no desenho de soluções. Na nossa opinião, nada melhor do que vivências diárias no tema para gerar reflexões profundas e engajamento.

    2. É comum no Brasil o (sub)julgamento do comportamento dos cidadãos, sem o amparo de dados. Não podemos pré julgar a capacidade das famílias em adotar e dedicar-se a esta prática, baseados apenas em experiências pessoais, estereótipos ou consensos culturais. Até porque, ações transformadoras geram novos hábitos. Mais do que a distribuição de 2 mil composteiras, o projeto visa e foi elaborado para ser um grande estudo de aplicabilidade. Desta forma, teremos 3 pesquisas com os participantes ao longo dos 5 primeiros meses justamente para mapear e mensurar dificuldades, fatores de abandono, melhores práticas, e diversos outros aspectos como alterações de hábitos alimentares e comunitários e com a própria produção e descarte de resíduos. Acreditamos que somente com dados concretos poderemos tecer opiniões e conclusões sobre a viabilidade da prática. Estas pesquisas terão seus dados abertos para que cidadãos, gestores e legisladores públicos, setores engajados e o meio acadêmico possam trabalhar, debater, criar novas visões, hipóteses e alternativas.

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  4. Por solicitação de um amigo que me pediu para comentar o seu artigo nesse blog, registro abaixo a essa introdução o mesmo comentário que coloquei no seu artigo similar a esse publicado no Portal Ecodebate no dia 11 de setembro de 2014:
    http://www.ecodebate.com.br/2014/09/11/cuidar-de-si-e-do-mundo-minhocario-ou-compostagem-artigo-de-efraim-rodrigues/

    A novidade é que agora temos os resultados do projeto, onde qualquer pessoa, inclusive o Sr. pode verificar os resultados das pesquisas realizadas pelo projeto. As informações contidas no site dos resultados do projeto poderá te ajudar a compreender melhor o projeto e os benefícios da vermicompostagem (mesmo em caixas).

    Para registrar, segue abaixo a resposta que escrevi o dia 14 de setembro ao seu artigo no Portal Ecodebate:


    Prezado Prof. Efraim,

    Sou fundador da Morada da Floresta e coordenador do projeto Composta São Paulo, tive acesso a esse debate e achei que poderia ser útil em contribuir.

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  5. Colega da Morada da Floresta;
    Acredito que nossa vivência com compostagem seja comparável. Sua resposta derrama um pouquinho de veneno com o fato de eu ter uma trajetória academica, mas não é dela que me valho quando falo sobre compostagem, mas de minha experiencia de decadas de compostagem em meu apartamento e nas centenas de escolas em que trabalhamos.
    Apesar de compartilharmos interesse desmedido pelo potencial da transformação do lixo, nossas opiniões são opostas em relação à vermicompostagem.
    Deixo para nossos leitores decidirem se devem acreditar na caixa de minhoca de centenas de reais ou na caixa reciclada de cinco reais.

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  6. Caro Efrain, sou professora de ciências e biologia, estou iniciando tentativas de compostagem de lixo orgânico em minha residência e gostaria de ampliar o conhecimento nas escolas que trabalho. No entanto, ainda estou em fase experimental. Gostaria de saber mais sobre seu trabalho e qual caixa o senhor recomenda?

    Att, Rafaela Ruy

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